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sábado, 28 de julho de 2012

Geraldo Stuart


Bié Junqueira Machione
Geraldo Stuart
               Geraldo Stuart sempre foi um homem de muito fôlego para enfrentar muitas aventuras. Nasceu em Pinhal. Certa vez, na Revolução de 1932, observava um grande número de soldados baianos com os fuzis  ensarilhados, na praça principal da cidade,  em descanso. Ele não resistiu à tentação de colocar a mão num dos fuzis. Resultado: as três armas despencaram dos encaixes e caíram.  Uma disparou e Geraldo  saiu de mansinho no meio da multidão que se formou e ninguém viu sua  travessura. 
            Na adolescência foi para São Paulo desenhar cartazes e propagandas. Conta  ele, que havia uma grande  firma de publicidade no centro da cidade. Um dia enamorou-se de uma alemazinha,  Frida, que trabalhava lá. Ela o levou até  os porões do prédio, onde funcionava uma  sala de rádio super potente. Stuart viu ser ali um centro de informações alemão. Na cadeira do rádio havia um jaleco da SS e um vistoso quepe.
            Stuart não sabia como, mas os alemães descobriram que ele tinha estado no porão com Frida e, naquela noite, ela foi à sua pensão apavorada. Deu-lhe dinheiro e disse: - Fuja para mais longe que puder, senão eles vão te matar.  No outro dia, Stuart comprou passagem na  Estação da Luz, para o último ponto de parada da Paulista. Chegou a Barretos em 1940. Começou a trabalhar elaborando cartazes para cinemas baseados nos filmes que seriam exibidos.
            Nunca mais ouviu falar da alemã Frida, que o salvou, dando-lhe a própria vida por este ato, provavelmente.
            Em Barretos dedicou-se aos cartazes, propagandas e desenhos também em jornais. Seu mais famoso desenho foi aquele que criou para a Festa do Peão de Boiadeiro em 1947. Fez o desenho para o jornal “O Correio de Barretos”.

Desenho de autoria de Geraldo Stuart

            O desenho do peão pulando no cavalo, de sua autoria, foi usado pelo clube de “Os Independentes”,  como símbolo da Festa do Peão até 1961.
            A trajetória de Geraldo Stuart no mundo dos anúncios de Barretos, propagandas de casas comerciais nas décadas seguintes à sua chegada à nossa cidade, exemplificam o esforço e o gênio de um homem desenvolvendo sua arte. 
            Certa vez, um de seus desenhos na imprensa, foi motivo de sermão do vigário da época, pois mostrava uma jovem pulando cerca, com as calcinhas de fora. Geraldo passou o talento, engenho e arte, ao filho, o Dado, que hoje segue a tradição dos Stuarts, com firma e oficina de desenho, de propaganda, casando a arte com o aspecto comercial.
           
Propaganda  desenhada por Stuart, em 1948




quarta-feira, 25 de julho de 2012

O coronel e a espada - Bié Machione


Espadas da Guarda Nacional 

            O  instrumento maior, de orgulho para um oficial da Guarda Nacional, era sua espada, tal qual o cetro de um rei, a vara mágica de um mago;  a espada para aqueles homens personificam seu mando e seu prestígio na sociedade.
            Havia em Barretos, um coronel da Guarda Nacional, que mesmo depois da extinção daquela corporação, com muito orgulho e fidalguia, gostava de vestir a farda azul, copiada dos oficiais do Exército francês, de botões dourados e quepe vermelho, cingir à cinta a espada, no recesso do seu quarto, e passar muitas horas da noite, sentado em uma poltrona, meditando o passado e lamentando no íntimo, a extinção daquele brioso grupo de homens, que por tantos anos, decidiu a política, e com ela, os destinos de nossa pátria.
            Fechava a porta de seu quarto e a ninguém mais era permitida a entrada naquele cômodo. Certa vez,  um moço que era muito impressionado com as coisas do sobrenatural, hospedou-se em sua casa. Errando de porta, abriu sem querer, a do quarto do seu anfitrião. O que viu fez-lhe gelar o sangue de suas veias.
            O velho coronel, espada em punho, agitando-a freneticamente, golpeava com ela o vazio a torto e a direito, estocando o ar, numa coreografia maluca. O moço fechou a porta rapidamente.
            Na manhã seguinte, na hora do café, não resistindo à curiosidade, perguntou ao velho se ele era apaixonado por esgrima há muito tempo. O coronel, encarando-o severo, respondeu: - vê-la seu sou apaixonado por esgrima. O que o senhor viu abrindo a porta de meu quarto foi minha sessão de afastar os maus espíritos.
            Todo dia invoco os espíritos vagantes que vêm perambular em minha casa, e com o aço e o fio de minha espada expulso-os pela janela afora. O moço engasgou-se o pedaço de pão e levou um tempão para parar de tossir.  Deu pressa e na mesma manhã o rapaz partiu.
            Uma filha do coronel comentou curiosa: - por que será que o Zeca, era o nome do moço, deu tanta pressa em ir embora?
            O coronel, cofiando seus  bigodes imensos, cochichou-lhe, inventei a ele uma estória de espantar espíritos nos exercícios que faço a noite de esgrima e ele caiu na mentira. Não gosto de ver hóspede arrastando asas em volta de minhas filhas.  Aquele coronel tinha sempre uma artimanha escondida, para usar na hora certa. E ninguém ficou sabendo se ele espantava espírito a espadadas, se era aficionado em esgrima ou se era um grande gozador.

Bié Junqueira Machione

terça-feira, 10 de julho de 2012

A grande donzela paulista - Bié Machione

           Na Revolução de 1932  o povo barretense irmanou-se no movimento de forma monolítica, galvanizada, e a mocidade da época   engajada na luta realizou proezas memoráveis naqueles dias gloriosos da epopeia paulista.
            A Revolução Constitucionalista, oficialmente eclodiu dia 9 de julho daquele ano. Mas vinha se fermentando o movimento em vários segmentos da sociedade brasileira desde a vitória da Revolução de 1930. Houve na ocasião do conflito uma moça de família tradicional barretense, Ana de Lima Franco, que apesar de ter antepassados mineiros, bem como sua mãe dona Henriqueta Laudemira de Lima, acabou se transformando no símbolo da mulher paulista apaixonada pela causa. “Titinha”, era este seu apelido, era  tida do grande dramaturgo barretense Aluísio Jorge Andrade. Era irmã de seu pai Inácio de Lima Franco.
            Essa moça, tendo residência, também em São Paulo, à rua Maranhão, transformou sua casa em  cidadela de defesa em  favor da revolução nos meses de julho, agosto e entrados de setembro. Enquanto durou o conflito, Titinha batalhou a seu modo,   angariou ouro para o bem de São Paulo, conclamando outras mulheres a se  engajarem em vários setores que a situação exigia, como confecção de fardas, agasalhos para as tropas, e os homens a ombrearem fileiras a  para deter  o inimigo  odioso. Sua  mãe,  dona Henriqueta, que  era chamada “A Rainha do Rio Pardo”, tal a coragem e ferocidade que defendia seus haveres, quando  seu marido morreu muito jovem, chamava os gaúchos de vermes, criados em bicheiras. 
            Aquela filha da “Vovó Onça” – como nomeava   Aluíso Jorge Andrade a avó materna, implacável e terror de toda a família, tinha nas veias o sangue  incandescente  dos  bravos de sua raça, do lado materno.
            O bisavô de Titinha, a grande donzela paulista,  coronel José Manoel de Lima, na velhice chefe político de Nossa Senhora das Dores do Aterrado, hoje Ibiraci, mocinho ainda engajou-se  na Guerra do Paraguai, como voluntário. Seu pai mandou com ele o Jerônimo, escravo de confiança para zelar do adolescente aventureiro. Numa violenta carga da cavalaria paraguaia, a infantaria brasileira, em último recurso, dispôs-se em quadrado, formando paliçada de baionetas, numa tentativa desesperada de deter o inimigo.
            O mineirinho mirrado, magrinho, foi colocado no meio do quadrado. O comandante teve pena dele.  A carga veio. À testa da coluna, um capitão guarani, índião robusto,  cavalgava  um garanhão baio, a toda brida, desassombrado,  para exemplo dos seus,  saltou a paliçada de baionetas brasileiras. Nesta hora, o Firmino, firmou o coice de seu fuzil no chão  e varou com a baioneta o peito da montaria. O cavalo rodopiou e caiu bem no meio  do quadrado.
            O mineirinho miúdo, que ninguém dava nada por sua coragem, sacou de sua charqueadeira, montou no pescoço do capitão caído e sangrou-o com um pontaço certeiro. A tropa brasileira galvanizou-se. Vendo aquela cena, empolgada avança. Repelem a carga da cavalaria. Os paraguaios acabam  dispersando por todos os lados, derrotados naquela grande batalha imortal que a História denominou “Lomas Valentinas” .
            O bisavô de Titinha, foi o mineirinho da vitória e trouxe dos campos de batalha,  os galões do inimigo  morto e sua espada.  A moça herdou dele a coragem a fúria desesperada.  Mas ela tudo era por São Paulo. Foi grande benemérita nas  causas assistênciais barretenses. Teve pavilhão na Santa Casa de Baretos com o seu  nome.
            Morreu jovem. A derrota paulista de 1932, foi o grande drama, que seu coração não resistiu e no cemitério de Barretos ergue-se até hoje seu túmulo, todo de mármore, tendo  no centro, também de  mármore, sua amada bandeira de São Paulo. Parodiando um pouco Guilherme de Almeida, dorme na eternidade coberta com a:
A Bandeira de sua terra
A  Bandeira das treze listras
As treze lanças de guerra
Do seu coração de paulista.
            Assim foi Ana de Lima  Franco, a “Titinha”, a grande donzela paulista.

Bié Junqueira Machione



domingo, 8 de julho de 2012

Barretos na Revolução de 1932


A Revolução Constitucionalista iniciou-se em 9 de julho de 1932. Foi uma verdadeira guerra civil. Através de jornais e rádios, os paulistas fizeram campanha, conseguindo mobilizar grande parte da população. Os combates ocorreram, principalmente, no estado de São Paulo, região sul do Mato Grosso e região sul de Minas Gerais.
São Paulo contou com o apoio do  sul do Mato Grosso e enfrentou o  enfrentou o poder militar do das forças armadas federais. A rendição se deu em  28 de setembro de 1932. Cerca de três mil brasileiros morreram em combate e mais de cinco mil ficaram feridos durante a revolução.
       Em Barretos as primeiras notícias da revolução de 1932 chegaram no dia 10 de julho, por comunicações radiofônicas. No dia 11, por iniciativa do prefeito René Ferreira Pena e dos representantes da Frente Única local – Riolando de Almeida Prado e doutor Urbano de Brito  - foi aberta a inscrição de voluntários para o batalhão barretense. O primeiro inscrito foi José Flausino de Brito e em seguida mais homens. Nos cafés, nas noites, as pessoas se reuniam para saber das notícias. O batalhão barretense foi batizado com o nome do soldado Teopompo de Vasconcellos, que fora preso pela Ditadura por ter manifestado o apoio à causa constitucionalista.       


José Flausino de Brito, acervo Bié Machione

No dia 12 tinham sido escritos duzentos voluntários. Estudantes que estavam em São Paulo regressaram  e se alistaram no batalhão Teopompo,  depois no Marcondes Salgado. No dia 16 eram 333 e no dia  17, somavam 352.
 Muitos boletins foram impressos, distribuídos à população:  “O Batalhão  Theopompo de Vasconcellos, no desdobramento dos trabalhos de oraganização em que se acha empenhado para prestar o concurso de Barretos no grande prélio  militar pró-Constituição, vem pedir ao povo e ao comércio em geral, sem distinção de classe ou de nacionalidade, todo e qualquer auxílio, como sejam: donativos em dinheiro, calçados, roupas feitas, cigarros e tudo mais quanto possa servir para o equipamento de uma tropa em campanha. 
Esses donativos deverão ser entregues na Prefeitura à comissão encarregada de os receber, composta dos senhores capitão José Felício Gomes, doutor Nicácio Serafim Barcellos, Plínio Junqueira Franco e Belmiro Zenha. A mesma comissão dispõe de um livro especial para o registro dos donativos. O Batalhão pede também o concurso dos senhores médicos, farmacêuticos, enfermeiros e enfermeiras, alfaiates, mecânicos, chauffeurs e escoteiros.
Para as distintas senhoritas que já se apresentaram e que ainda se apresentam para a Cruz Vermelha, o Batalhão já instituiu na Santa Casa, sob a direção  dos doutores Urbano de Brito e Carmélio Guagliano, um curso de enfermeiros.
O Batalhão está igualmente providenciando os meios de amparo às famílias dos soldados pobres, que partiram para a lucta em defesa do Brasil e de São Paulo.
Espero, outro sim, que os senhores comerciantes, além dos donativos que não deixaram de enviar à Comissão referida, levem o concurso mais longe, dispensando do serviço os seus empregados inscriptos, sem prejuízo por parte de seus empregos e ordenados, enquanto durar o movimento nacionalista.
Os terrenos do Hypódromo vão ser preparados para campo de aviação. Os serviços de Intendência de Guerra estão também em organização. O distincto e honrado comerciante desta praça, senhor Alexandre Assad, já entregou à Comissão, expontaneamente, 50 metros de brim káki, para fardamento da tropa.
O Batalhão de Barretos, como se vê, está promovendo todos os meios de sair para a lucta perfeitamente fardado e com as responsabilidades civis dos soldados asseguradas. Espera, por isso, que o povo e o comércio venham em seu auxílio para maior felicidade de sua missão patriótica”.
  Jerônimo Serafim Barcellos foi escolhido representante dos voluntários barretenses.   No dia 22 os alistados partiram para Ribeirão Preto e no dia 23 seguiu  para Olímpia -  que estava ameaçada de ser invadida -  um grupo de 52 soldados barretenses.  Os soldados permaneceram oito dias em Olímpia, voltando para Barretos, sendo enviados para Laranjeiras, Porto Antônio Prado e fazenda Poção e depois para Barra Grande.        

Os 52 de Olímpia, fonte Jornal "Barretos Memórias"


De 16 a 21 de agosto  alguns barretenses estiveram nas trincheiras do Porto Tabuado. Outros foram para Eleutério, Itapira e outras zonas fronteiriças. Em cinco de setembro, o batalhão “Marcondes Salgado” composto por barretenses seguiu em quase sua totalidade até a cidade de Limeira. Partindo para Barra Grande, um grupo composto por vinte soldados recebeu armamentos do Capitão Benevides Figueira. No dia 8 de setembro, vários voluntários guarneceram os setores da Barra da Onça, do córrego da Bananeira e Porto da Rapadura, e em 26 de setembro, a tropa recebeu ordens para seguir até a cidade de Campinas.
Em 26 de setembro houve a retirada das tropas para Campinas.  Muitos  deixaram de atender à ordem e foram para suas casas, outros seguiram para a Estação.  
Osório Faleiros da  Rocha narrou a retirada dramática do que restou das tropas constitucionalistas em 26 de setembro de 1932 quando a certeza da derrota da causa dos paulistas tomara conta dos ânimos barretenses. 
Na cidade as casas permaneciam  fechadas e quando os militares remanescentes que partiam em direção a São Paulo já estavam todos acomodados dentro dos vagões da Paulista, pouco antes da partida, um soldado bêbado, começou  a fazer bagunça.  Com um sabre na mão, agitava-o, desafiando a todos. Por fim prenderam-no no cubículo do correio. Não adiantou. Ele acabou escapando pela janela, conseguiu o sabre novamente e pôs-se a movimentá-lo em desafio.
            O motorista do capitão  Clementino,  José Bernardes, manobrou o fuzil e em seguida deu dois tiros no bêbado, que continuava trocando passos, sorrindo. Parece que aqueles dois tiros foram sinal para o começo de um tiroteio, vindo de todos o lados, de fora em direção à composição,  pronta para partir e de dentro do trem para o rumo à plataforma. Um capitão, chamado Mangeri,  de dentro de um vagão, pela janela, disparou mais dois tiros sobre o cadáver do bêbado que caíra a beira da plataforma e rolara abaixo no leito dos trilhos, ficando sentado morto entre as rodas do carro e o ressalto da plataforma.
            Osório Rocha dentro do trem presenciou toda aquela cena de violência inesperada e desnecessária, pois se tratava apenas de um embriagado inofensivo. E sem reação ante a brutalidade do ato ficou à beira de uma janela do vagão, exposto,  enquanto todos os seus companheiros, deitados, escutavam o barulho sinistro das balas perdidas em ricochetes.
            Finalmente o trem seguiu seu caminho se distanciando vagarosamente da plataforma. O cadáver perfurado de balas acabou esmagado pelas rodas. Sobre esta  fuzilaria existe uma versão garantida por alguns que aponta como causa de toda confusão armada o fato de que aquele trem levava parte do ouro arrecadado na campanha “Ouro para o Bem de São Paulo”.  


Tiro na grade da estação, acervo Bié Machione

             Alguns espertalhões promoveram na saída do trem o tiroteio para que o carregamento precioso fosse desviado no caminho por cúmplices aliciados.  Algumas pessoas comentavam que  Anibal Vieira, que se encontrava naquele comboio, teria sido contratado para que isto acontecesse.
            A outra versão é que tudo não passou do estado de ânimo sobressaltado dos soldados paulistas em retirada. Deste incidente, que ficou na história de Barretos como o chamado tiroteio da Estação, existe ainda uma lembrança física, lá mesmo, onde aconteceu a tragédia, um marco daquele dia sinistro. O pesquisador Bié Machione descobriu numa das hastes de ferro da alta grade que margeava e protegia a  plataforma, a marca do tiro. 


Referências
ROCHA, Osório Faleiros da. "Barretos de Outrora" e "Reminiscências". 

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Simão Antônio Marques




Simão Antônio Marques, um dos fundadores de Barretos,  nasceu cerca de 1782,  em Baependi, Minas Gerais. Em 1801 estava com 19 anos, por ocasião do falecimento e inventário de seu pai Manuel Antônio Marques.
Em 1804, Simão Antônio Marques, prestou serviço no quartel da Beira do Campo, (em Caldas) que servia para  esbarrar as invasões dos paulistas, na Província de Minas, naquela área.
Nesse mesmo ano, por motivo de estar fazendo serviço militar, não pode assistir a  partilha Bom Retiro na Bocaina, com o falecimento de seu pai, em 1801.
A herança recebida e vendida  possibilitou a vinda para o norte paulista.
Casou-se em 12 de maio de 1808,  na Capela de Nossa Senhora do Rosário, filial de Lavras do Funil, com Joaquina Cândida de Jesus, natural da freguesia de São José (da cidade do Rio de Janeiro), filha do capitão Valentim João Moreira e de Inácia Bernarda Joaquina da Conceição.
Simão Antônio Marques foi um dos desbravadores e povoadores de Barretos, juntamente com Francisco José Barreto, onde chegou por volta de 1830, tomando posse da fazenda Monte Alegre ou adquirindo de outrem essa posse já constituída. De acordo com as escrituras pesquisadas, Simão comprou de várias pessoas terras na fazenda Monte Alegre.


Descendentes de Simão Antônio Marques. Fonte: "Álbum comemorativo do primeiro centenário da fundação de Barretos, de Ruy Menezes e José Tedesco, p. 21". 


O apelido Librina  que a família carrega até hoje originou-se da grande estatura física de Simão,  ou de seu irmão,  ou do pai destes que,  estando ajoelhado na igreja,  chamou a atenção do vigário, imaginando  que ele estivesse de pé. O padre indagou como tinha aquela estatura e ele respondeu que foram as “librinas da madrugada”, porque acostumava acordar bem cedo. O apelido passou para a família inteira. Até hoje os Marques se orgulham de ser Librinas.
Simão Antônio Marques era um homem de muita coragem.  Logo após sua mudança para as paragens do sertão de Araraquara, um dia,  vinha com  Marcelino de Jaboticabal, tocando um cargueiro de gêneros. De repente,  avistaram uma grande onça pintada à beira do picadão dormindo. Nem pensaram nas armas que portavam. O sertanista fez duas opções: entregou o caso a Deus e à rijeza de seus braços. Cortou a facão, um grosso cacete de pitangueira e negaceando, pé ante pé, veio vindo sorrateiro e desceu o cacete com violência. A fera pouco tempo teve  com a cabeça arrebentada. Como fato aconteceu à beira de um ribeirão, este ficou batizado de Ribeirão da Onça, no caminho de Bebedouro.
Outra vez, apesar dos insistentes rogos da mulher, não quis fazer fogueira para Santo Antônio. Na época estas homenagens a santos eram muito levadas a sério. A mulher insistiu. Simão não atendeu o pedido e mandou que estourassem pipocas, pois estava com vontade de comê-las. Umas faíscas deste fogo voaram longe e o fato é  que a casa pegou fogo. A esposa,  até o fim da vida,  acreditou que o santo magoado dera ao sertanista castigo adequado. Simão passou a respeitar esta interpretação.
Doou com a família Barreto (Francisco José Barreto havia falecido) terras para a constituição do Patrimônio do Divino Espírito Santo. Simão foi casado duas vezes. A primeira com Joaquina Cândida de Jesus, com quem teve 10 filhos e a segunda com Joana Maria de Azevedo com quem não teve filhos. Faleceu com 91 anos em 1874.
Simão e Joaquina tiveram os seguintes filhos:  Inocêncio Antônio Marques, Valentim José Maria ou Valentim Antônio Marques,  Joaquim Simão Antônio Marques, João Simão Marques, José Antônio Marques ou José Simão Marques, Maria Leocádia de São José,  Inácia Bernarda Cândida, Rita Maria de Jesus (citada também como Rita  Esméria de Jesus  ou Rita Estulana),  Francisca e   Mariana Cândida de Jesus.

Referências

ROCHA, Osório Faleiros. “Barretos de outrora”. Barretos: s/e, 1954.




sexta-feira, 29 de junho de 2012

Família Marques



Hoje discorreremos um pouco sobre o pai de Simão Antônio Marques, um dos fundadores de Barretos. O patriarca da família Marques em terras mineiras foi o Alferes Manuel Antônio Marques, nascido por volta de 1747 em Santa Marinha da Ribeira de Pena, Arcebispado de Braga, filho de Antônio Marques e de Custódia de Melo ( ou Custódia Gonçalves), naturais da mesma freguesia.
Em Baependi, em 26 de novembro de 1773, o Alferes Manuel Antônio Marques casou-se com Genoveva de Sousa Pena, nascida por volta de 1754 em Baependi, filha de Domingos de Sousa Pena (natural  de Santiago de Soutelo, Concelho de Vila Pouca de Aguiar, Arcebispado de Braga) e de Joana Vieira de Oliveira ( natural de Pilar de São João Del Rei), sendo neta paterna de Tomé Alves e de Catarina  Gonçalves, e neta materna de Antônio Vieira da Maia e de Antônia do Prado ( os últimos eram naturais de Taubaté, SP. ).


Vista de Baependi, cerca de 1870. Foto do Arquivo Público Mineiro

O Alferes Manuel Antônio Marques e a família residiram em Baependi até 1782. Em 16 de fevereiro de 1782 foi nomeado Alferes da Capela de Nossa Senhora da Conceição do Rio Verde, novamente criado o distrito. Simão Antônio Marques, um dos fundadores de Barretos, nasceu em Baependi.
Em maio de 1785 mudou de Conceição do Rio Verde para a região de Caldas – que ainda não existia. No ano de 1789 recebeu ordem do Alferes José Pereira de Almeida  Beltrão para apossear as terras da vertente do rio Jaguari-mirim, na Cachoeirinha, anexando-as a sua Fazenda do Bom Retiro (atualmente município de Ibitiúra).
O Alferes Manuel Antônio Marques foi um dos primeiros moradores de Caldas. Era proprietário da fazenda Bom Retiro de Caldas, “por compra e posse”. Pagava o dízimo de seus frutos e criações por triênio. Faleceu em 16 de janeiro de 1801, em Campanha, quando estava em viagem para o Rio de Janeiro.  O seu testamento foi registrado na Campanha  e transcrito nos livros de Ouro Fino. Morreu com 54 anos, sendo sepultado na Igreja da Campanha.
A data de seu testamento é de 15 de janeiro de 1801, sendo inventariado em 3 de maio de 1801 na Fazenda do Bom Retiro, freguesia de Ouro Fino, termo da Vila da Campanha da Princesa, Minas Gerais, comarca do Rio das Mortes.
Genoveva de Sousa Pena casou-se em segundas núpcias com José Gabriel de Carvalho, entre 1801 e 1804, separando-se do mesmo em 1807. O processo de desquite teve início em 9 de abril de 1819 em São Paulo, não tendo desfecho, pois Genoveva faleceu em  11 de janeiro de 1824. José Gabriel de Carvalho no processo de divórcio tentou provar que sofreu atentado contra sua vida, de Genoveva. Genoveva declarou que o libelo era  falso e calunioso. De ambos os lados há depoimentos de várias testemunhas.
Do segundo casamento não houve filhos. O testamento de Genoveva tem a data de 9 de dezembro de 1823 feito na Fazenda do Bom Retiro, escrito e assinado a rogo pelo Vigário Carlos Luís de Melo. O inventário de Genoveva foi feito no ano de 1824 em Caldas. No testamento declarou ser filha  de Joana Vieira de Oliveira. 
Os casal Alferes Manuel Antônio Marques e Genoveva de Sousa Pena teve onze filhos: Francisca Antônia Marques, Senhorinha Maria da Conceição,  Manuel Antônio Marques, Antônio Manuel Marques, Domingos Antônio Marques, Francisco Antônio Marques,  Maria Antônia do Rosário, João, Gabriel Antônio Marques, Maria Madalena da Conceição, Simão Antônio Marques, um dos fundadores de Barretos. No próximo artigo falaremos de Simão Antônio Marques. 


Roseli Tineli