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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Família Marques



Hoje discorreremos um pouco sobre o pai de Simão Antônio Marques, um dos fundadores de Barretos. O patriarca da família Marques em terras mineiras foi o Alferes Manuel Antônio Marques, nascido por volta de 1747 em Santa Marinha da Ribeira de Pena, Arcebispado de Braga, filho de Antônio Marques e de Custódia de Melo ( ou Custódia Gonçalves), naturais da mesma freguesia.
Em Baependi, em 26 de novembro de 1773, o Alferes Manuel Antônio Marques casou-se com Genoveva de Sousa Pena, nascida por volta de 1754 em Baependi, filha de Domingos de Sousa Pena (natural  de Santiago de Soutelo, Concelho de Vila Pouca de Aguiar, Arcebispado de Braga) e de Joana Vieira de Oliveira ( natural de Pilar de São João Del Rei), sendo neta paterna de Tomé Alves e de Catarina  Gonçalves, e neta materna de Antônio Vieira da Maia e de Antônia do Prado ( os últimos eram naturais de Taubaté, SP. ).


Vista de Baependi, cerca de 1870. Foto do Arquivo Público Mineiro

O Alferes Manuel Antônio Marques e a família residiram em Baependi até 1782. Em 16 de fevereiro de 1782 foi nomeado Alferes da Capela de Nossa Senhora da Conceição do Rio Verde, novamente criado o distrito. Simão Antônio Marques, um dos fundadores de Barretos, nasceu em Baependi.
Em maio de 1785 mudou de Conceição do Rio Verde para a região de Caldas – que ainda não existia. No ano de 1789 recebeu ordem do Alferes José Pereira de Almeida  Beltrão para apossear as terras da vertente do rio Jaguari-mirim, na Cachoeirinha, anexando-as a sua Fazenda do Bom Retiro (atualmente município de Ibitiúra).
O Alferes Manuel Antônio Marques foi um dos primeiros moradores de Caldas. Era proprietário da fazenda Bom Retiro de Caldas, “por compra e posse”. Pagava o dízimo de seus frutos e criações por triênio. Faleceu em 16 de janeiro de 1801, em Campanha, quando estava em viagem para o Rio de Janeiro.  O seu testamento foi registrado na Campanha  e transcrito nos livros de Ouro Fino. Morreu com 54 anos, sendo sepultado na Igreja da Campanha.
A data de seu testamento é de 15 de janeiro de 1801, sendo inventariado em 3 de maio de 1801 na Fazenda do Bom Retiro, freguesia de Ouro Fino, termo da Vila da Campanha da Princesa, Minas Gerais, comarca do Rio das Mortes.
Genoveva de Sousa Pena casou-se em segundas núpcias com José Gabriel de Carvalho, entre 1801 e 1804, separando-se do mesmo em 1807. O processo de desquite teve início em 9 de abril de 1819 em São Paulo, não tendo desfecho, pois Genoveva faleceu em  11 de janeiro de 1824. José Gabriel de Carvalho no processo de divórcio tentou provar que sofreu atentado contra sua vida, de Genoveva. Genoveva declarou que o libelo era  falso e calunioso. De ambos os lados há depoimentos de várias testemunhas.
Do segundo casamento não houve filhos. O testamento de Genoveva tem a data de 9 de dezembro de 1823 feito na Fazenda do Bom Retiro, escrito e assinado a rogo pelo Vigário Carlos Luís de Melo. O inventário de Genoveva foi feito no ano de 1824 em Caldas. No testamento declarou ser filha  de Joana Vieira de Oliveira. 
Os casal Alferes Manuel Antônio Marques e Genoveva de Sousa Pena teve onze filhos: Francisca Antônia Marques, Senhorinha Maria da Conceição,  Manuel Antônio Marques, Antônio Manuel Marques, Domingos Antônio Marques, Francisco Antônio Marques,  Maria Antônia do Rosário, João, Gabriel Antônio Marques, Maria Madalena da Conceição, Simão Antônio Marques, um dos fundadores de Barretos. No próximo artigo falaremos de Simão Antônio Marques. 


Roseli Tineli


quarta-feira, 27 de junho de 2012

Contos do Bié Machione: Enterro no rio


O conto a seguir é de autoria de Bié Machione 

Chico Tropeiro  dormira pouco aquela noite. Levantou cedinho e foi dar rumo ao seu trabalho. Com esforço, jogou o corpo  magro do homem morto de través no meio do seu cavalo.
Amarrou pés e mãos bem atados e encilhou então seu matungo  testa de estrela com seu lombilho chapeado de prata que fora presente do coronel Seixas.
Aquela encomenda do coronel lhe dera um trabalhão  às pampas. Primeiro teve  que tocaiar o Mané Bentão, o que não foi fácil. Depois de chumbeado e bem morto,  lá na curva da estrada que levava à balsa de travessia do rio, Bentão  ficou lá horas até que Chico voltasse depois de arranjar escolhido no pasto um boi “no jeito” para o serviço.
Chico abateu o caracu enorme com um balaço  quarenta e quatro bem na testa. O bicho não tugiu nem mugiu.  Caiu nos cascos. Com habilidade de açougueiro adquirida anos a fio, Chico tirou as vísceras habilmente, deixando limpa a carcaça por completo. Largou ali no pasto o boi abatido e voltou para buscar o morto que seria guardado no seu interior.
Chegou, desceu o cadáver do Bentão, enquanto conversava com o morto alegremente: - Então compadre cê nunca imaginou que seria enterrado na água  num caixão de carne e osso. Viu que desgraça a vida te reservou.
E com ironia macabra de matador desalmado  começou a costurar, sim,  costurar o corpo do morto na carcaça oca. Quando terminou estava lá bem guardado o Mané Bentão no seu ataúde de couro, carne e ossos, pronto para sua  viagem final.
Para o rio foi um pulo só, uma baixada suave. Amarrou a carga sinistra na cincha do seu cavalo e no cavalo de ajuda outra cincha larga e foi arrastando.
Foi tiro e queda e o boi  acabou estirado na correnteza suave do rio. Chico cortou as cordas e  lá foram homem e boi.
- Vai com Deus excomungado, gritou Chico. Voltou, pegou as rédeas de seu cavalo, a corda do barbicacho do outro e seguiu seu caminho.  






Livro editado em 1995. 


Bié Machione

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Veteranos confederados no Brasil


Durante os anos de 1861 a 1865, os Estados Unidos experimentaram uma das piores guerras civis da sua história: a “Guerra da Secessão” como foi chamada, onde 11 estados do sul dos Estados Unidos (Alabama, Arkansas, Carolina do Norte, Carolina do Sul, Flórida, Geórgia, Louisiana, Mississipi, Tennessee, Texas e Virgínia)  queriam se tornar independentes dos Estados Unidos e assim formar um novo país que seria chamado de Estados Confederados.
 Os estados do sul, cuja atividade principal era a agricultura de algodão, com significativo volume de exportações, estavam descontentes com a política traçada pelos Estados Unidos. O governo queria impor condições aos estados do sul que o povo sulino não aceitava. Os demais países do norte eram altamente industrializados e as diferenças sociais eram muito grandes.  Na raiz do problema estavam questões comerciais e tarifárias, mas principalmente a escravatura, da qual dependia a competitividade no mercado externo dos produtos agrícolas sulistas, em especial o algodão, vital para a indústria têxtil inglesa.
Essa guerra civil durou 4 anos e terminou com a derrota dos estados do sul. O saldo de mortes chegou quase a 1 milhão de pessoas. Durante essa guerra foi interrompida a produção e o fornecimento de algodão, tanto às empresas têxteis dos Estados Unidos, como para empresas do resto do mundo e,  evidentemente, o preço do produto disparou no mercado internacional.

General Brigadeiro John Bufford, lutou pelo norte


Havia significativas diferenças entre os beligerantes. Os estados e territórios do norte, onde viviam 23 milhões de pessoas, além de fabricar os próprios armamentos, tinham uma poderosa esquadra e melhores condições de repor as perdas de batalha. O lado confederado, de economia rural, com população de 9 milhões de habitantes, dos quais cerca de 3,5 milhões eram escravos, dependia de armas compradas no exterior. Com a derrota dos sulistas, o poder central da União se fortaleceu, a escravidão foi abolida e importantes mudanças sociais e econômicas foram implantadas no país.
Um dos combatentes, o Coronel Willian Hutchinson Norris, insatisfeito com a derrota e com as condições a que teriam que se submeter, liderou um movimento migratório para outro país. O Brasil foi o  escolhido, pelas oportunidades de trabalho, as terras férteis e a acolhida com que o governo imperial brasileiro, liderado por D. Pedro II oferecia. Tanto D. Pedro II, como o Cel. Norris eram ligados à Maçonaria, o que facilitou muito essa aproximação. O Coronel Norris foi Grão Mestre da Grande Loja Maçônica do Alabama e senador por este estado americano.
Para cá vieram  intelectuais, profissionais liberais e pessoas com larga experiência na agricultura, na medicina, na geologia, professores, dentistas. O processo de imigração desses norte-americanos ao Brasil iniciou-se em 1866, mas culminou em 1868.
O local escolhido para a fixação da maioria deles foi onde hoje estão situadas as cidades de Santa Bárbara d’Oeste e Americana, na região metropolitana de Campinas, Estado de São Paulo. Isto se deveu à fertilidade do solo, às facilidades e abundância de água e disponibilidade de terras para a lavoura.       
Chegando, imediatamente cuidaram de construir suas casas, formar as vilas e começar o plantio do algodão, que estava com altos preços no mercado internacional.
A prosperidade chegou à região. Logo depois trouxeram a ferrovia que passou por Americana e Santa Bárbara d’Oeste, chegando até Rio Claro. Criou-se a primeira indústria têxtil na região, a histórica Indústria Têxtil Carioba. E a industrialização de Americana se deveu a essa fábrica, que vendia suas máquinas obsoletas aos funcionários, e estes abriam pequenas fábricas têxteis de fundo de quintal em suas casas.
O progresso não parou mais, tanto que Americana ganhou a carinhosa denominação de a “Princesa Tecelã”, por conta da qualidade do tecido fabricado ali e do volume de indústrias têxteis na cidade, fato que se nota até hoje.
Sargento John Ridley Bufford


Um destes migrantes foi  John Ridley Bufford. Era filho de Jefferson Buford e Mary Rabeca Buford, nascido em Claydon, Bárbara Cometry, Alabama. 
Alistou-se em abril de 1862 em Eufaula, Alabama e foi designado Sargento na Captain Reuben Koulb’s Battery da Barbour Alabama Light Artillery. Foi transferido em 6 de novembro de 1864, como soldado, para a Eufaula Battery da Alabama Light Artillery.
Esteve no St. Mary’s Hospital em Union Springs, AL, de 29  de setembro de 1864 até 6 de novembro de 1864, mas participou das batalhas de Kentucky Campaign, Hood’s Tennessee Campaign, e Chickamauga, e obteve sua liberdade em Meridian, Mississippi, em 10 de maio de 1865. Na sua libertação, mencionou como local de residência Eufaula, AL.
Mudou-se para o Brasil, para  Santa Bárbara d’Oeste, casando-se com Francisca Alexandrina de Oliveira Bufford.  O casal teve os filhos: João Bufford, Ana Bufford e Zuleika Bufford.
Ana Ridley Buford teve uma filha chamada Aldegundes, que se casou com Mariano Juliano.  Do casamento nasceram: Waldomiro Juliano e Djalma Bufford Juliano que se casou com  Terezinha Oliveira Bufford.
Djalma foi funcionário da Prefeitura Municipal de Barretos por  longos anos até se aposentar. 
Djalma e dona Terezinha são pais de:
1. Aldemar Antônio Juliano, casado com Rosangela de Lima Juliano, tendo as filhas: Juliana de Lima Bufford Juliano e Beatriz de Lima Bufford Juliano. 
2. Evamar, casada com Antônio Cláudio Marson, pais de Cláudia Juliano Marson e Camila Juliano Marson.
Dona Terezinha e Djalma Buford Juliano, em 2008. 
Um fato interessante, digno de nota, é que neste conflito, muitos membros de uma família lutaram em campos opostos. Encontramos na revista americana “Military History” de outubro de 1993, um detalhe da Batalha de Gettysburg, na qual foi decisiva a ação do Brigadeiro General John Buford, oficial superior das tropas da União. Aquele oficial tinha o nome idêntico àquele que se transferiu para o Brasil e aqui formou família.
Diz a história que o General Bufford sabia que se sua posição na batalha fosse mantida, a sorte penderia para o seu lado e então disse ao um dos seus subalternos: - Vamos que ter que lutar igual demônios para conseguir isto. Eles lutaram e conseguiram. Numa ilustração daquela revista encontramos um retrato do General Buford e a semelhança física com seu primo  é muito grande. Ambos lutaram em campos opostos na grande tragédia que dividiu o povo americano naquela época. Cada qual seguiu os desígnios que ditava sua consciência.
Rua em homenagem  em Santa Bárbara d’Oeste, ao Bufford que veio para o Brasil 
Diz um ditado popular que o mundo é muito menor do  que imaginamos. Concordamos plenamente quando soubemos que descendentes diretos de um veterano da Guerra da Secessão norte-americana residem em Barretos, entre nós,  e cultuam a memória honrosa de seu  antepassado.

Roseli Tineli

sábado, 23 de junho de 2012


Descoberta: Origem de Chico Barreto


        Em 1999 quando lançamos o livro “Primeiros povoadores e fazendas”, fizemos uma árvore genealógica da família Marques, uma das fundadoras de Barretos. Através de pesquisas em documentos  dos arquivos de Araraquara e Minas Gerais, descobrimos os inventários de  Simão Antônio Marques, sua esposa e filhos.
          Mas uma dúvida nos inquietava. Onde teria nascido Francisco José Barreto, outro fundador da cidade. Osório Faleiros da Rocha  em seu livro “Barretos de Outrora”  citou todos os filhos de Chico Barreto. Entretanto,  o local de nascimento e a data do falecimento ninguém sabia. Eram incógnitas.  
        Através de contatos com pesquisadores mineiros, sempre solicitávamos que quando soubessem alguma informação nos transmitisse.
           Pesquisando  alguns documentos que nos foram enviados de  Minas Gerais  encontramos referências a Francisco José Barreto. E está revelado o grande mistério: Chico Barreto era natural de Jacuí, Minas Gerais, nasceu em 1785. Era filho de João Clementino Barreto e Maria do Rosário Barreto. Casou-se com Ana Rosa de Jesus em 1805.  De Jacuí Francisco Barreto foi para Caldas, onde conheceu Simão Antônio Marques e acompanhando o tenente Francisco Antônio Junqueira vieram para estas paragens.
            Depois de prestar serviços ao tenente Francisco Junqueira recebeu a fazenda Fortaleza em paga aos serviços prestados. Todos nós sabemos que quando um grupo  migra de uma região para outra, carrega consigo, por questão de nostalgia e respeito, os nomes dos toponímicos de onde saiu.
Em Caldas, onde é certa  a passagem e a  permanência dele e de sua família por alguns anos, existe ao lado do distrito de São Pedro, aproximadamente a vinte quilômetros de Caldas, um patrimônio tão velho quanto aquela cidade, cujo nome sempre foi Fortaleza, ao lado direito de São Pedro, à beira do rio Pardo.
A fazenda Fortaleza recebeu esse nome  em razão do nome daquele povoado. A divisão da fazenda Fortaleza teve início no ano de 1898. Confrontava na sua parte setentrional com  as fazendas Pitangueiras e Monte Alegre, em sua parte ocidental com as fazendas Monte Alegre e Bagagem, ao sul com a fazenda Pitangueiras e do lado oriental com a  fazenda Pitangueiras.
Brevemente publicaremos mais informações sobre Francisco Barreto e seus  irmãos. 

Prédio do Museu e suas águias


            Algumas vezes recebemos telefonemas de alunos, querendo saber informações sobre as águias que estão no prédio que abriga o Museu, outrora prefeitura.
            Aquele prédio foi inaugurado em 1907, o construtor foi César Tonelli, imigrante italiano que veio em busca de novas  oportunidades  para o Brasil. O historiador Humberto Perinelli Netto demonstrou em sua tese de doutorado que  na  construção do prédio de Barretos foi seguido o modelo do Palácio do Catete, chamado de Palácio das Águias.


            Mas o que significam as águias lá no Palácio do Catete? Águia era a ave que simbolizava o  baronato de Nova Friburgo, pois o barão de Nova Friburgo foi quem construiu a casa.
            Inicialmente,  no Palácio do Catete,  as águias eram de ferro, depois foram retiradas e colocadas estátuas de musas e em 1910 colocaram novamente as águias, mas de bronze.
            Desde antiguidade, a águia é usada como símbolo de poder por impérios, nações e exércitos. A ave foi marca das legiões romanas, das armas de Napoleão e das hordas de Hitler. Algumas cidades da região possuem guias em seus prédios, como Bebedouro. No Teatro Municipal do Rio de Janeiro há uma águia que cobre a cúpula do prédio, e foi restaurada em 2009. 

Prédio que abriga o Museu, sem as águias, final da década de 1910. Fonte: Álbum aspectos de Barretos.

            Como o Paço Municipal barretense foi construído tendo como parâmetro o Palácio do Catete,   deve-se a isso as  águias do nosso prédio. Em Barretos  as águias só foram colocadas  na década de 1920, e trouxe até um tom  pejorativo ao local, sendo chamado de palácio “dos Águias”, os rapinas na política.

Prédio com as águias, década de 1940. Fonte: acervo Museu "Ruy Menezes". 

            O motivo de ter sido colocada anos depois, provavelmente deve ter sido a falta de verbas na época.   Dá próxima vez que você for visitar o Museu, preste atenção nas águias que estão ali há muitos anos. Visite também o site criado por Sueli Fernandes:http://museuruymenezes.blogspot.com.b, que se refere ao museu de Barretos. 


Roseli Tineli