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quarta-feira, 25 de julho de 2012

O coronel e a espada - Bié Machione


Espadas da Guarda Nacional 

            O  instrumento maior, de orgulho para um oficial da Guarda Nacional, era sua espada, tal qual o cetro de um rei, a vara mágica de um mago;  a espada para aqueles homens personificam seu mando e seu prestígio na sociedade.
            Havia em Barretos, um coronel da Guarda Nacional, que mesmo depois da extinção daquela corporação, com muito orgulho e fidalguia, gostava de vestir a farda azul, copiada dos oficiais do Exército francês, de botões dourados e quepe vermelho, cingir à cinta a espada, no recesso do seu quarto, e passar muitas horas da noite, sentado em uma poltrona, meditando o passado e lamentando no íntimo, a extinção daquele brioso grupo de homens, que por tantos anos, decidiu a política, e com ela, os destinos de nossa pátria.
            Fechava a porta de seu quarto e a ninguém mais era permitida a entrada naquele cômodo. Certa vez,  um moço que era muito impressionado com as coisas do sobrenatural, hospedou-se em sua casa. Errando de porta, abriu sem querer, a do quarto do seu anfitrião. O que viu fez-lhe gelar o sangue de suas veias.
            O velho coronel, espada em punho, agitando-a freneticamente, golpeava com ela o vazio a torto e a direito, estocando o ar, numa coreografia maluca. O moço fechou a porta rapidamente.
            Na manhã seguinte, na hora do café, não resistindo à curiosidade, perguntou ao velho se ele era apaixonado por esgrima há muito tempo. O coronel, encarando-o severo, respondeu: - vê-la seu sou apaixonado por esgrima. O que o senhor viu abrindo a porta de meu quarto foi minha sessão de afastar os maus espíritos.
            Todo dia invoco os espíritos vagantes que vêm perambular em minha casa, e com o aço e o fio de minha espada expulso-os pela janela afora. O moço engasgou-se o pedaço de pão e levou um tempão para parar de tossir.  Deu pressa e na mesma manhã o rapaz partiu.
            Uma filha do coronel comentou curiosa: - por que será que o Zeca, era o nome do moço, deu tanta pressa em ir embora?
            O coronel, cofiando seus  bigodes imensos, cochichou-lhe, inventei a ele uma estória de espantar espíritos nos exercícios que faço a noite de esgrima e ele caiu na mentira. Não gosto de ver hóspede arrastando asas em volta de minhas filhas.  Aquele coronel tinha sempre uma artimanha escondida, para usar na hora certa. E ninguém ficou sabendo se ele espantava espírito a espadadas, se era aficionado em esgrima ou se era um grande gozador.

Bié Junqueira Machione

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